Controle Biológico na Agricultura:
Uma Prática Milenar Transformando a Produção Sustentável
Por: Matheus Diogo Penteado
Acredita-se que o controle biológico é uma grande novidade no mundo da agricultura, entretanto essa é uma prática mais que milenar. Segundo alguns historiadores do tema, o controle biológico já existia a 4 mil anos atrás na região do Egito, onde era usado gatos para proteger grãos dos ratos. Essa solução simples, que os egípcios já usavam há muito tempo, pode ser usado para fazer uma analogia com a situação contemporânea, onde os produtores usam de microrganismos benéficos para protegerem suas plantações de eventuais insetos, nematoides, vírus e bactérias que podem danificar a sua lavoura. Além do exemplo da terra dos faraós, temos exemplos na China, onde a 3 mil anos atrás os agricultores chineses usavam de formigas para proteger suas laranjeiras de insetos indesejados, essa prática foi tão efetiva que se perpetuou até 1970 constando em registros a venda de ninhos da formiga protetora.
Com o passar do tempo novos métodos foram desenvolvidos pela ciência, bem como o método de parasitismo, que consiste no uso de microrganismos causadores de doenças nas pragas, levando a proliferação dessa doença na população indesejada e consequentemente sua diminuição a níveis que não causam danos econômicos. Um dos microrganismos usado em grande escala hoje é a Beauveria bassiana, mas seu primeiro uso foi catalogado em 1835 pelo italiano Agostino Bassi de Lodi, foi ele quem primeiro sugeriu o uso de patógenos causadores de doenças para matar insetos que se tornaram verdadeiras pragas nas lavouras, pouco tempo depois foram desenvolvidas maneiras de produção em massa do fungo M. anisopliae. Atualmente os fungos citados são usados em ampla escala em todas as lavouras do mundo devido sua alta taxa de controle de insetos.
No Brasil o controle biológico acabou ocorrendo tarde, em 1970 e 1980 temos os primeiros dados de controle biológico no país, foi o controle dos pulgões-do-trigo no Rio Grande do Sul. Nos anos 1970 os pulgões se tornaram o principal problema da cultura do trigo no extremo sul do país, os produtores optaram por usar o uso intensivo de agroquímicos, mas as pragas presente na cultura eram exóticas, observando isso os pesquisadores da Embrapa vislumbraram a possibilidade de se usar inimigos naturais do pulgão, buscando em sua origem geográfica tais microrganismos. Foram trazidos inimigos naturais do pulgão de diversas regiões do globo para serem testados no Brasil, bem como da América do Norte, Israel e Europa, tornando o controle dos pulgões em um verdadeiro sucesso.
Com as atuais demandas por alimento no mundo, o Brasil se tornou um grande player do mercado alimentício e para produzir a quantidade de alimento necessária para suprir essa grande demanda o país também se tornou um grande consumidor de agroquímicos. O uso intensivo de agroquímicos vem prejudicando a saúde dos consumidores e gerando uma nova demanda de alimentos, a população pressiona o estado para o incentivo a produção de alimentos orgânicos ou mais sustentáveis e um grande aliado para produzir os alimentos sustentáveis é o controle biológico que pode reduzir pela metade o consumo de agroquímicos no País através do MIP (manejo integrado de pragas) e sendo possível até como um substituto aos produtos químicos mais agressivos.